Blog Della

Blog pessoal da Bru desde 2012. Considere que escrevi alguns posts no auge da minha adolescência.

Bruna Della
27 anos. Capricorniana. Um cargo publico e passando por uma transição de carreira para cartomante e arteterapeuta junguiana. Umbandista, artista, cartomante, atriz e professora de teatro. Compartilhando desde os 15 anos minhas experiências em forma de textos, fotos e vídeos.

Gina Pane

Gina Pane. Detalle de Action Psyché, 1974.. Fonte: Masdearte

   Quando pesquisei Gina Pane na internet, a única informação que o Google me passou de imediato foi 'foi uma artista italiana' nascida em 24 de Maio de 1939 na França onde também faleceu em 6 de Março de 1990. E então, um buraco sem mais informações porém um buraco cheio de imagens que me reviram.
   A artista viveu em Paris porém passou sua juventude na Itália, estudou na escola de Belas Artes em Paris, onde logo em seguida realizou sua primeira exposição.

    No trabalho acadêmico de Idália Cristina Lopes Bento, titulada como "Analise Síntese da Obra de Gine Pane" a mesma cita que as obras da artista inicialmente eram ligadas a princípios ambientais e que sua primeira performance foi 'Enfoncement d´un rayon de soleil' (1969).
Fonte: Kamel Mennour
  O que mais me chamou atenção para a artista, foram as fotografias de auto-flagelação e meio ambiente, que me fazem refletir muito sobre a mulher e nossos corpos. Esse trabalho deu a Gane Pane "a reputação de uma artista com um trabalho feminista" e então, fui obrigada a pesquisar mais e mais e compartilhar com vocês.
    Após poucas pesquisas, cheguei ao termo Body Art.

"A Body art é uma manifestação das artes visuais onde até o corpo do próprio artista pode ser utilizado como suporte ou meio de expressão. "

   Ou seja, para suas ações, Gina Pane se utilizava o seu corpo como arte. O trabalho que mais me chamou atenção foi o 'Azione Sentimentale' (1973), uma ação que ocorreu em 1973 em Milão a um publico totalmente feminino. A ação ocorre em duas fases/séries:
"Numa primeira fase segura um bouquet de rosas vermelhas, onde num gesto de vaivém afasta o bouquet de si em direção ao público, onde em seguida o acolhe para junto de si mesma, abraçando-o como se de um bebe se tratasse.Na sua Performance , é visível a sua posição fetal, onde numa segunda fase usa um bouquet de rosas brancas. Posteriormente ao gesto alternado de ir e vir com o bouquet , estende o seu antebraço e crava 8 espinhos sobre este, para seguidamente abrir a mão e passar uma lâmina sobre esta, deixando o sangue fluir onde em duas séries a artista mostra um bouquet  de rosas brancas e noutras duas um bouquet  de rosas vermelha "

A obra final foi uma evidência de ação, um painel com um total de 7 fotos que apresentam os momentos chaves da ação, junto também tem o esboço da artista.
Azione Sentimentale. Fonte: Curiator
  Em seguida, encontrei informações sobre Discours Mour at Mas, que segundo o Umbigo Magazine

"um corpo está deitado nú de costas para nós, enquanto Pane simula um jogo de ténis e toca pratos que estão forrados a algodão. Um espelho onde estão desenhadas estrelas é partido (as mesmas estrelas que se vêem tatuadas na sua mão e nas costas do modelo). Na sequência do partir do espelho, a artista corta-se com uma lâmina. Na última imagem, Pane, deitada ao lado do modelo vê o céu através de uns binóculos."

   Acho que o pior de pesquisar sobre algumas obras, é imagina-las e não conseguir ver a concretude das ações. Fiquei extremamente curiosa para ver Gina Pane em ação.


   Segundo a Travessia Poética Gina não chamava seus trabalhos de performances por entender que utilizar esse termo acarretava um peso teatral, então escolheu que 'Ação' seria o melhor termo para seus trabalhos. Neste mesmo texto, também encontrei uma pequena reflexão e ponto de vista das obras da artista:

"Os seus atos bastante extremados no sentido da auto-mutilação e do sofrimento pretendiam acentuar o problema da violência da vida contemporânea na sua relação com a vulnerabilidade e com a própria passividade com que o individuo enfrenta estes temas. As suas encenações, de sentido masoquista, assentavam na impassividade com que a artista produzia os cortes e na capacidade de conter e teatralizar o próprio sofrimento e de estetizar a auto-mutilação. Aproximando-se das orientações estéticas de outras artistas femininas, a obra de GINA PANE pretendia abordar a relação entre os sexos, os tabus e os estereótipos e o problema da dominação masculina. "

    Lendo Gina-Pane Arte por uma lâmina você consegue entender e ler vários outros trabalhos da artista.
   O que me fascina nesses trabalhos é a disponibilidade de um corpo, um corpo que nada em temáticas com várias camadas de interpretação que eram pertinentes a época e ainda são até hoje. Um corpo que se torna abstrato por ser um corpo concreto. Toda vez que paro para refletir na ação Azione Sentimentale, novas interpretações e formas de enxergar a ação mudam e isso me deixa sem respirar por algum tempo, se martirizar para que só então uma sociedade possa perceber aquele corpo em movimento, uma sociedade que já esta tão acostumada a fazer isso consigo mesmo e com o outro. Seria covardia da minha parte expor todas as minhas reflexões sobre essa ação com vocês, então ficam apenas as perguntas:

O que é uma mulher fazendo a si mesma sangrar ao cravar espinhos segurando um buquet de rosas na frente de uma platéia inteiramente feminina em 1973? O que é uma mulher manipulando e se modificando seu próprio corpo, por vontade própria, na frente de mulheres em 1973? 


Fontes:



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