Oficina Arte como expressão: Instituto Cativar |
Sou voluntária no Instituto Cativar, lá eu leciono uma oficina chamada "Arte como expressão", vocês devem perceber o quanto sou apaixonada por arte contemporânea e o quanto a arte conceitual me atinge. Quando conversei com a Nádia, diretora da ONG, pensamos em algo onde pudêssemos reunir todas as habilidades dos usuários (os chamamos de usuários e não alunos por conta do programa que a ONG faz parte) para criarmos algo pautado no experimento das artes contemporâneas e que tivesse um resultado a ser apresentado e que o processo passasse por temáticas que despertam o grupo.
Acontece que foram anos dando aula de inglês e quase não praticando minhas habilidades como professora de arte e teatro, quem dirá para aulas de arte contemporânea, mas eu amo dar aulas e amo arte contemporânea, por que não tentar?
Decidi explorar as questões sobre o que é arte aos poucos, apresentar várias teorias essencialistas e não essencialistas e já tivemos Arte como Imitação e Arte como expressão, porém no meio disso, termos algumas práticas que envolvem o corpo e produção de obras, sejam visuais, coreográficas, plásticas etc.
Como não conhecia os usuários não sabia de suas realidades, mas sabia de algo que estava acontecendo e não poderia deixar de falar: tivemos o caso de brumadinho, as enchentes, o caso de Suzano e tantos outros acontecimentos. Começamos falando sobre violência e ainda estamos explorando esse tema como gatilho para as criações.
Em outro momento compartilho com vocês alguns jogos e as criações deles, mas agora, queria focar na estrutura que estou usando na aula, e estou aceitando sugestões.
Conheço Ana Mae e estou tentando aplicar o pouco que conheço nas aulas com a proposta triangular, Contextualizar, Praticar e Apreciar, porém sinto que ainda de forma bem inocente. Sinto falta de professores que compartilham a estrutura de suas aulas, tenho certeza que aprenderia muito com elas então, conforme vou experimentando, quero compartilhar com vocês.
Oficina: Arte como expressão |
A ideia de finalizar a aula com perguntas sem respostas é tira-los da inercia. Quando aceitamos algo como resposta definitiva nos privamos de conhecer mais, de nos envolvermos e de encontrarmos respostas diferentes e isso é algo que acontece muito com a juventude, nada é aprofundado porque a preguiça é maior. Então, quero envolve-los nas perguntas para que a curiosidade seja o motor que os instiga a nunca ficarem com a primeira resposta. Não foi fácil isso, nas primeiras aulas ficavam alguns silêncios, um aceitava a resposta do outro por preguiça e eu também sentia um receio em perguntar, agora é algo natural e eles mesmos compartilharam que em outras oficinas começaram a questionar as "verdades" também.
"Della, como assim exercício que conduz ao que quero produzir?", por exemplo, estava interessada em trabalhar os movimentos com eles mas também trabalhar as cores e produzir algo visual e abstrato para utilizar esse trabalho em nossas discussões, o tema era violência e em nossa conversa chegamos a conclusão que as pequenas violências são as que nos silenciam diariamente e esse tema talvez fosse algo interessante de explorar. Elas criaram uma lista com as formas que violentam a cidade e as formas que a cidade violentam eles. Em seguida, brincamos de pega-pega, mas esse pega-pega eu o chamo de "pega-pega silenciador", o pegador era aquele que tinha que calar o outro, e quem estava sendo pego tinha que falar sobre essas violências listadas, um não podia deixar o outro falar, ao mesmo tempo que não podia haver silêncio não podia haver barulho, foi intenso! Pedi para que cada uma pensasse nos movimentos que usaram para silenciar o outro e se protegerem, selecionassem quatro movimentos e os experimentassem. Em seguida, juntamos todos os movimentos e criamos uma composição coreográfica ao som da música "Violenta" da Larissa Luz, logo, finalizamos a aula com uma coreografia, já, um produto. Na aula seguinte realizamos outros exercícios e em um deles elas precisariam relembrar essa coreografia, nesse dia conversamos sobre as cores também e as possíveis interpretações ou não delas em uma obra e no nosso dia a dia, por fim, pintamos os pés delas e dançaram em cima do papel craft, elas pensaram no movimento e também pensaram em quais cores achavam que batiam com o tema proposto, deram o nome de "Voz", pensaram em algumas perguntas para provocar quem visse e deixamos expostos na ONG por duas semanas (até que outra oficina precisasse retirar para usar o lugar). Ou seja, os exercícios nos levaram a uma coreografia (que bem trabalhada pode ser um outro produto) que nos levou a uma obra.
Oficina Arte como expressão |
Usamos essa obra criada para discutirmos sobre as teorias de arte e elas sentem um orgulho enorme do que criaram, sempre quando alguém entrava na aula elas criavam perguntas (da mesma forma que eu faço com elas) para que a pessoa saísse do "não entendo" e mergulhasse nas possibilidades da obra.
Resumindo
Compartilhei sobre as etapas da minha aula, são elas:- Roda de conversa
- Aquecer o corpo
- Exercícios de foco e estado de jogo
- Exercício que os leva ao tema do dia/exercício principal
- Produção artística
- Novas referências e analise de obras
- Roda de conversa sobre o encontro
Se eu estou no caminho certo? Acredito que sim! Mas ainda há muito o que aprender como educadora e pretendo compartilhar mais e mais com vocês. Compartilhem comigo também.
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