Em alguns livros identifiquei que a ideia do "xamã", um líder que cura, um líder que é capaz de se comunicar com os espíritos, um sábio e essa relação com o poder da natureza vem de tempos pré-históricos. No artigo "Uma visão geral sobre repertórios usados em cerimônias de xamanismo universalista no Brasil", o autor Marcelo Ricardo Villena explica:
"O contexto do xamanismo geralmente é o de povos que vivem em contato com um meio ambiente preservado e que acreditam que essa natureza tem forças espirituais poderosas que interagem com o ser humano."
A casa que eu consagrei é considerada Universalista e no mesmo artigo, Marcelo informa:
"O Xamanismo Universalista procura resgatar esses conhecimentos tradicionais integrando-os à vida urbana, como forma de guiar caminhos de autoconhecimento."
Confesso que essa ideia de Universalista me agrada muito, vejo muito sentido na união de todas essas forças de diferentes religiões trabalhando em conjunto no mundo espiritual. A Kate disse que por isso, durante minha consagração, talvez eu tivesse contato com energias de diversas religiões.
Como eu tomei a decisão de consagrar?
Eu passo por alguns tratamentos espirituais de vez em quando com a Kate (@solar77777) que é uma mulher muito inteligente, astróloga em que confio muito. E em um de nossos atendimentos o tema "Ayahuasca" surgiu por conta de alguns sonhos que eu tenho desde criança. Em seu perfil, a Kate sempre compartilha os rituais da medicina sagrada de lugares que ela confia e também consagra.
No mês passado eu vi uma postagem dela compartilhando sobre o Instituto Ayahuasqueiro Cavalo de Aço (@cavalodeaco__) no Tucuruvi, pertinho da estação de trem. O ritual seria uma Festa Cigana e de Oxum. Não preciso dizer nada que o termo "Festa Cigana" me deixou animada, porém o medo ainda existia. Durante meu isolamento com covid19 tive algumas questões com meus atendimentos do Baralho Cigano e senti a necessidade de procurar auxilio, foi quando lembrei do ritual que ela tinha compartilhado e pensei ser a oportunidade perfeita.
Passado o covid19 entrei em contato com a casa e disse que tinha interesse, mas nunca tinha consagrado antes. A Luciana, mãe da casa, me mandou áudios bem detalhados explicando sobre o ritual coletivo e como tudo funcionaria, me trazendo uma segurança enorme. Agendei.
Orientações para os 3 dias que antecedem a consagração Ayahuasca:
- Abster-se de carne vermelha e alimentação pesada;
- Evitar bebidas alcoólicas e drogas;
- Realizar banho de ervas na véspera;
- Bom senso na vestimenta.
O que levar no dia da consagração Ayahuasca:
- Coberta para uso pessoal;
- Dois rolos de papel higiênico;
- Garrafa de água para uso próprio;
- Alimentos leves como frutas, bolos e tortas para partilharmos no final do ritual;
- Oferendas aos ciganos (frutas, flores, incensos, o que o coração sentisse);
- Eu também levei uma segunda peça de roupa, para caso eu sujasse conseguir ir limpa para casa.
Como foi o dia da consagração?
Foto: Instituto Ayahuasqueiro Cavalo de Aço |
A casa estava linda, cheia de cores, com um altar maravilhoso e uma energia muito gostosa. Fui recebida muito bem pelo Leandro e conheci a Kate pessoalmente. Preenchi uma ficha e assinei o livro para marcar minha presença.
A Luciana novamente sentou do meu lado e explicou diversas coisas para mim que estão sendo explicadas no decorrer desse artigo. Algo que me ajudou muito durante o processo foi a respiração, ela me orientou a respirar profundamente e com calma e no meu relato vocês irão ver que me ajudou demais.
Cada pessoa recebe um baldinho, pois vomitar é comum nesses rituais. A explicação que eu recebi foi de que a medicina realiza uma limpeza e o vomito é essa limpeza sendo feita ou até a medicina fazendo a energia em determinada parte do corpo girar, causando essa reação. Também me disse que é normal dar vontade de ir ao banheiro e no primeiro sinal, não hesitasse ir ao banheiro, pois pode ser que depois eu não conseguisse segurar.
Conforme o horário da consagração se aproximasse, os outros irmãos presentes começaram a usar o rapé que segundo uma pesquisa bem rasa "É um pó da medicina sagrada xamânica, que é feito de tabaco, cascas de árvores, ervas e demais plantas moídas.". A Luciana disse que caso eu sentisse vontade, era só pedir que a casa aplicaria o rapé em mim, pois dependendo da planta colocada, iria me ajudar a centralizar e organizar os pensamentos durante o ritual. Eu não senti vontade e não passei por essa experiência.
Realizamos diversas orações e o copinho com a medicina foi distribuído junto com algumas uvas para tirar o gosto do chá, que é um sabor bem forte, nos sentamos em uma posição meditativa e a música começou. Quando eu fechei os olhos, em menos de 5minutos eu já estava na tal Força.
Eu explico melhor sobre o que é a força e como as mensagens chegaram mais a frente.
Durante todo o processo, os guardiões da casa ficavam rondando os irmãos e verificando se estavam todos bem. Como eu era a única que nunca tinha consagrado, senti que sempre tinha alguém de olho em mim e mesmo durante os momentos de desespero, a própria Luciana me ajudou a deitar e me acolheu.
A música é a condutora da experiência, a música alta trazia diferentes imagens e sensações. Fui orientada a sempre que sentir que estava me "perdendo", retornasse meu foco para a música e foi o que eu fiz.
Durante todo a experiência eu estava consciente, quando abria meus olhos eu enxergava tudo normalmente, conseguia controlar meu corpo e tudo mais e quando fechava os olhos, as imagens continuavam.
Depois de aproximadamente 1h30-2h eles distribuem a segunda dose, do qual eu não tomei, pois a primeira já tinha sido muito forte para mim. Fiquei orgulhosa de ter respeitado meu corpo e dito não (dizer não é muito difícil pra mim) e fiquei aliviada que ninguém tentou me empurrar ou me obrigou a toma-la.
As músicas começaram a acalmar e entramos na energia de Oxum, bem calma, bem cuidada.
Para encerrar, realizamos diversas orações e tivemos um momento de nos alimentarmos e conversarmos. Conheci o Cigano Príncipe e diversas outras pessoas maravilhosas. Foram aproximadamente 6 horas de ritual.
Entrar na força
A força é o fenômeno da expansão da consciência, é quando as imagens começam a surgir. Quando entramos na força, algumas imagens surgem trazendo mensagens que nos auxiliam em nossos processos.
Minha experiência:
Foto: Instituto Ayahuasqueiro Cavalo de Aço |
Nos primeiros 5 minutos senti minha cabeça se abrir, era como se a meu chakra coronário estivesse a todo vapor e em contato direto com o céu, não tinha mais filtro. Eu vi fogo, cores, formas, flores, tudo pulsava com a música, eu era a natureza e a natureza era eu. A sensação física de ser, de sentir ser. Tudo muito intenso.
Tive diversas imagens e recados que não convém compartilhar aqui, pois são muito pessoais. Anotei tudo o que pude lembrar assim que cheguei em casa.
Foi a primeira vez que eu passei pelo processo de incorporação, minha mandíbula tremia e eu tinha espasmos por diversas áreas do corpo, frio e eu sentia meu rosto mudar, bem como sentia vontade de deixar meus membros de jeitos específicos, senti que estava saindo de mim e foi quando eu me desesperei e comecei a ter o mal estar. Disse para a espiritualidade que talvez eu ainda não estivesse pronta mentalmente para aquilo e essa sensação cessou.
Quando eu comecei a sentir a náusea depois da quase incorporação, fiquei bastante irritada, eu queria sair de lá, queria que tudo parasse, eu não vomitava, ia no banheiro e o nº 2 não saia e nessa hora foi meio desesperador, melhorou quando a Luciana me ajudou a deitar e me lembraram de respirar (inspirar profundamente pelo nariz e deixar sair pela boca). Tudo se acalmou e as imagens começaram a vir com mais tranquilidade.
Chegou uma hora em que tudo era lindo, lindo em um nível que nunca vou esquecer e eu dizia "não quero me esquecer dessa imagem", eu abria os olhos e tinha uma festa cigana com pessoas dançando e a luz entrando na minha frente. Eu fechava os olhos e outra festa cigana acontecia. Lindo, lindo, lindo.
Meu corpo foi voltar ao "normal" no dia seguinte, não consegui comer naquela noite nada além de frutas, especificamente uva. Tudo bem leve e muita, muita água.
Estive na hora e ainda estou com vontade de pintar algumas imagens que eu vi e dançar, porque a dança cigana me deixou viva.
Confesso que pela sensação física e bad trip que entrei, tenho um pé atrás de fazer novamente. Sei lá, never say never. Porém, foi uma experiência inesquecível e cheia de descobertas de mim mesma, uma experiência da qual sou grata.
Você já consagrou? Como foi sua experiência?
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