Durante o 2º semestre do curso técnico de teatro da Escola Nacional de Teatro, tivemos a disciplina de voz com a atriz e professora Nathalia Quadros. Um dos trabalhos avaliativos era a leitura do capítulo 1 do livro "Voz: Partitura da Ação" escrito por Lucia Gayotto e a escrita de uma resenha/resumo.
De antemão já indico que adquiram o livro e tenham em casa, é um livro perfeito para quem quer compreender o uso da voz para atores e perfeita para professores trazerem insights para a atuação a partir da voz. Eu comprei o meu em uma promo nesse link.
Eu não fazia a menor ideia de quem era Lucia Gayotto e indo em diversos espetáculos onde a qualidade vocal se destacava, percebi que a preparação vocal era dela. A conheci pessoalmente assistindo AnonimAto da Cia. Mugunzá e comecei a acompanha-la. Hoje estou realizando um curso oferecido gratuitamente pelo Sesc Carmo chamado "Entre Voz – Saúde e preparação vocal para atores, atrizes e artistas" ministrado pela rainha, onde entendemos melhor o sistema fonador, recursos vocais e algumas práticas que eu compartilho no meu tiktok quando dá tempo.
Destaco que o conteúdo intelectual desse post está reservado e não deve ser copiado sem as devidas referências.
Sem mais delongas, a partir do próximo paragrafo se inicia o trabalho enviado para minha professora de voz.
O capítulo 1 com o nome Ação Vocal no geral fala sobre a busca do ator em realizar uma ação vocal magnética e de acordo com o personagem e que seja capaz de participar da trajetória do espetáculo, e sua importância.
Nos deparamos com os componentes de uma ação vocal e como ela pode e deve ser viva dentro do trabalho do ator, acompanhada de técnicas teatrais, construção, processo, saúde vocal e muito mais. Irei explorar os subtítulos para as informações ficarem mais organizadas, comunicando as informações que mais me tocaram e ampliaram minha percepção sobre o uso da voz.
UMA ESCUTA DA VOZ NO PALCO
Nesse trecho do capítulo, a autora se debruça sobre as sensações do trabalho da voz na interpretação do ator. Uma voz que arrebata, convida para caminhos e completa a interpretação. A cada observar da voz, uma nova escuta é aberta, até que somos tocados pelas pausas, pela emoção, pela trama e nos damos conta do que é uma boa interpretação vocal.
A AÇÃO NA VOZ
Às vezes os atores ficam engessados em um padrão vocal e não permitem que a voz seja viva, como ator é essencial nos mantermos em processo de experimentação vocal, desde a primeira leitura de texto, até os espetáculos. Ela diz que ”ouvir a dimensão criadora da voz do ator é um deixar-se afetar pela ação vocal.” (GAYOTTO, 1997, p.20). E informa que a ação vocal é constituída da seguinte forma:
- Recursos vocais: tudo o que envolve a fala. E possui os recursos primários e resultantes, combinados expressam as intenções.
- Recursos primários: respiração, intensidade, freqüência, ressonância, articulação;
- Recursos resultantes: projeção, volume , ritmo, velocidade, cadência, entonação, fluência, duração, pausa e ênfase.
A VOZ DENTRO E FORA DA CENA
O desejo de que o eco fosse uma companhia. (Pascoal da Conceição)
Em cena o que se modifica são os recursos vocais do ator que são integrados à trajetória da personagem. Durante a construção dessa voz é necessário se permitir, se abrir a experimentação e não impor limites. É necessário haver uma preparação vocal para fundir as necessidades da personagem com a possibilidade vocal do ator, encontrando meios de juntar os recursos fisiológicos com as forças vitais.
Esse encontro acontece tanto na voz do ator quanto na voz de não-atores, a diferença é que o ator trabalha em busca da construção de um personagem.
O resultado dos recursos vocais fundidos com as forças vitais é a ação vocal, capaz de afetar o espetáculo e o espectador.
A PREPARAÇÃO DA VOZ NA CRIAÇÃO
Trabalhar a voz para o teatro e ter saúde vocal são duas coisas que muitas vezes são trabalhadas separadamente, mas que deveriam ser pensadas e trabalhadas em conjunto.
Existem semelhanças entre uma voz cênica e não-cênica, mas, algumas necessidades do teatro exigem ajustes específicos variando o personagem e espaço cênico.
Uma das partes que mais me chama atenção do texto é a ênfase e os diversos lembretes para a voz viva. A voz do ator não deve refletir apenas um personagem enrijecido ou apenas acontecimentos, a voz deve ter movimentos vivos e portanto, pode ser adaptada conforme vive.
@bru.della Voz para Atores: resumo dos exercícios que mais fazemos em aula 🎭🗣💬 #auladeteatro #professoradeteatro #teatro #atuacao #vidadeatriz #vidadeestudante #teatro #professoradearte #voz #actingskills ♬ som original - Bru Della
O MOVIMENTO DA VOZ EM MOVIMENTO
Assim como nosso corpo é capaz de experimentar infinitos movimentos, ritmos, pesos, fluência, assim pode nossa voz, como em uma brincadeira de movimentar. Mas, não basta apenas movimentar, é preciso traçar um objetivo para que o movimento não seja vago de significado.
(...)O corpo é a parte visível da voz (oo.) A voz é o corpo invisível que opera no espaço. Não existem dualidades, subdivisões: voz e corpo. Existem apenas ações e reações que envolvem o nosso organismo em sua totalidade. (...) A voz é um prolongamento do corpo. (Eugênio Barba)
Nesse trecho do capítulo, diversos diretores e preparadores vocais são mencionados, sempre apresentando pontos em comum e ressaltando a compreensão de que voz e corpo são um só, do peso das palavras em cena e como ela modifica a ação dramática, como flechas enviadas para o outro ator-personagem que o afeta se ficar parado, se desviar ou se errar o alvo, também é citado que normalmente o ápice de uma projeção de voz também é acompanhado de um momento bastante emotivo do personagem.
- As palavras devem vir acompanhadas de contexto;
- A ação vocal deve ser construída em harmonia com a cena;
- Caso haja uma discordância entre a voz e o personagem acontece uma estereotipação;
- Realizar ação vocal amplia o uso dos recursos vocais na criação.
AS CARACTERÍSTICAS CÊNICAS NA AÇÃO VOCAL
- Ação Física: Ação física e vocal devem ocorrer juntas, em comunhão e devem ter um objetivo.
- Objetivo e superobjetivo: Um superobjetivo é resultado de vários objetivos atingidos durante o percurso, durante um espetáculo. O texto ao ser falado atinge um objetivo e também se caminha para a solução do superobjetivo.
- Situação: A situação é o presente, onde, quando, com quem, como, por quê. O ator deve estar consciente da situação para expressá-la. A voz do ator também deve imprimir a situação.
- Intenção: A intenção dos personagens, seu querer, gera movimento no corpo e também na voz. O querer é explícito nas falas, nas curvas melódicas e recursos vocais.
- Subtexto: Dizer o texto não é um vômito de palavras, as palavras devem ser enraizadas, analisadas e deve ser reescrito por baixo dos panos, um outro texto que é dito pelas mesmas palavras do texto escrito, mas com intenções diferentes imprimidas em sua emissão, trazendo mais camadas e possibilidades para o personagem.
FALAR É AGIR
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